15 de mai. de 2009

"E eu que pensei que o tempo fosse amigo..."

(A distância, Toquinho)

"...again my heart sits upon a wall. Now from here where do I go?
I can't decide, I do not know..."
(Lawrence H Pfaff)

É ruim sentir falta, não é mesmo? Sentir falta de alguém que a gente não voltará a ter. Falta de alguém que a gente nem teve ainda. Falta de uma comida que a gente goste muito, mas que só tem num bristô na rua Brighton Beach, no Brooklyn, em New York. Falta da neve que caía no dia 07 de dezembro, de um ano que parecia não nos importar. Falta de um sol de dezembro, em pleno calor de quase verão brasileiro e se fazia planos de estar junto com aquele alguém a vida inteira. Falta de esperar o shopping abrir, para andar voltas sem gostar ou levar coisa alguma. Sentir falta da camiseta que de tão velha, teve que ser abandonada. Sentir falta de um lugar que não fomos, de alguém que não conhecemos, de uma vida que não optamos. Sentir falta dos dias que não irão voltar, do tempo que não poderemos repor, da nossa energia da juventude, da inocência que não passou do primeiro amor.
Os planos é que acabam com tudo, porque estão incluídos com todas as coisas que perdemos quando um amor se vai, quando os dias passam tão depressa que não percebemos, quando a sabedoria chega sem notarmos que nossos "vinte e poucos" já eram. A sensação de dor se torna maior, a perda se torna maior, as noites teimam em ser mais longas, e a ansiedade de queremos fazer tudo ao mesmo tempo nos atravessa. Devíamos viver sem perspectivas para o futuro, sem imaginar, sem criar demais, sem planejar muito e assim, quem sabe, viveríamos com mais intensidade os momentos que nos são permitidos. E as lembranças, no fim, ficariam mais vibrantes, mais detalhadas.
Sinto falta também justamente disso: de não conseguir arquivar as memórias com todos os detalhes. Memória devia guardar não somente “male mal” a imagem, mas também o cheiro, o gosto, o tato, o vento, o peso. Lembrança devia ser coisa mais viva, mais real, mais palpável, um quadro com a tinta fresca que não tem o direito de secar. Acho que não quero me conformar com as fotografias, com os vídeos, com as cartas. Quero me acostumar em poder trazer à tona, a qualquer hora, a qualquer tempo, o momento vivo, o instante exato.
Saber o caminho que passamos, é a forma mais segura de ir em frente.
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(Cáh Morandi)

10 de mai. de 2009

“Vence na vida quem diz sim...”

(Vence na vida quem diz sim, Chico Buarque e Ruy Guerra)

Para Roseane


Apesar de raro, nem sempre se leva uma vida inteira para se aprender sobre algumas coisas. Coisas, aliás, que são imprescindíveis para nos tornarmos humanos melhores, não apenas para as outras pessoas, mas principalmente para nós. Acredito que Deus tenha nos dado certos dons, ou habilidades como alguns preferem dizer. Mas a tarefa de aperfeiçoá-los dependem exclusivamente de nossa vontade e o mais difícil: no que ou quem queremos nos tornar e ser durante os anos que teremos pela frente.

Com a minha idade, não aprendi na escola, nas duas faculdades e nem na pós-graduação a me tornar uma pessoa comprometida. Aprendi a fazer cálculos, análises, marketing, planilhas, aprendi economia, o PIB, a lidar com ações do mercado, just in time, just in case, just, just...e sair de lá uma administradora. Na minha vida de escritora aprendi a sentir, aprendi a ver melhor, a dar mais importância aos detalhes, e também a cuidar melhor do meu mundo por dentro. Mas nada sobre a palavra comprometimento.

No meu novo trabalho, eu não esperava mais do que cálculos, atenção e disposição. Mas me enganei, e logo no começo. A primeira coisa que me frisaram foi justamente a palavra quase que desconhecida no meu vocabulário: comprometimento. Não me pediram se eu sabia fazer isso ou aquilo, não me pediram sobre o que aprendi na graduação, nos cursos, nos almoços de domingo com a minha família. Só me pediram tudo de uma vez só: comprometimento. Não me pediram para fazer certo, para fazer novo, para cumprir meus horários. De novo só me pediram o essencial: comprometimento.

Essa palavra mágica e que se sobrepõe sobre todos os meus conceitos em ser uma excelente profissional, e que se agrega a administradora competente em que quero me tornar. A palavra que importei para a minha vida pessoal, familiar. A palavra que se reflete também em meus escritos e meus compromissos com a cultura e literatura. A palavra que agora coloco como alicerce na construção do meu caráter e das minhas atitudes.

Vem antes do salário, do cargo, das funções, da pontualidade, do currículo, das habilidades. Na minha empresa, o comprometimento é o contrato, é a carteira assinada e todos os benefícios.


Cáh Morandi