26 de jul. de 2010

"Meu coração não se cansa de ter esperança..."

(Coração Vagabundo, Caetano Veloso)
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Demorei muito tempo para começar. Demoramos demais para perceber que é preciso descobrir o começo, algum começo. Nos atrasamos e aí lá se foi milhões de cartas, de erros, de um sim quando era não, e de um não que talvez pudesse nos iniciar. As outras pessoas também não sabiam, e mesmo se desconfiassem saber, não poderiam indicar um caminho que só nós mesmos seremos capazes de desvendar.
A vida é mata fechada, quem está vindo agora também está vindo para descobrir algo de novo. Ainda há muitas ilhas, ainda há um deserto infinito no coração de alguém. Ainda temos medo do escuro, e penso que cresce conosco, silencioso e sempre presente. Nosso caminho é feito do que trouxemos desde muito tempo, desde o intervalo, desde um adeus que não sabíamos, de uma solidão que nos abraçou sem que percebessemos.
Trouxemos a solidão desde que guardamos o primeiro bilhete de amor, desde que o primeiro beijo nunca se repetiu, desde que aprendemos a somar um com um e descobrimos que dois era melhor. Não aprendemos a ser sozinhos, nem tão pouco a sermos completos. Sempre nos faltará alguma coisa, sempre teremos alguma coisa ausente e tão doce que doerá no sorriso. Só a vida nos ensinará que para sermos mais, precisaremos nos dividir. Ser metade sempre será mais completo do ser inteiro.
Você deve se achar o máximo, deve se achar a estrela do céu de Hollywood e no fundo você não sabe nada, não sabe nem quem é você, nem quem você está prestes a se tornar. Na verdade você está longe, mas eu entendo, te compreendo, precisamos dilacerar o coração primeiro, entregá-lo a alguém que irá machucá-lo e devolvê-lo com um rosto tão leve que o aceiteremos de volta, e não importa se demoraremos a outra metade da vida tentando juntar pedaço por pedaço para enfiá-lo no peito novamente, o entregaremos de novo mais cedo ou mais tarde, inocentes, o pegaremos nas mãos e deixaremos alguém o levar. Só muito tempo depois é que compreendemos o amor, só depois que o peito tiver sido aberto muitas vezes, de termos escritos muitas cartas, de termos encontrado muita gente, depois que do coração só restar uma ferida, aí estaremos prontos. Pois o amor virá depois que se anular a felicidade que julgamos. Deixamos o amor chegar quando estivermos em milhões de pedaços, para cuidar, para curar, para nos ajudar a construir.

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Cáh Morandi

6 de jul. de 2010

"Um dia em mim essa aflição sossega, more comigo e traga o seu amor..."

(Por que você não vem morar comigo?, Chico César)
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Não podemos compreender nada se o mais raso que estivermos dentro daquilo, não seja no fundo. Qualquer coisa que avistamos incluir em nossa vida é para ser profundo, a ponto de que ali possamos mergulhar. Não acredito em nada diferente disso, e é por isso que não desvio, mas seguro o olhar.
Ele não entende e a resposta vem errada. A resposta não vem. Mesmo com todos os sinais e simpatias, mesmo com tantas coincidências premedidatas. Será que pensa que realmente ligo por engano? Será que não percebe que o meu sangue ferve e aquece todos os vulcões? Será que não vê que o meu sorriso insinua e conversa até nascer um beijo para que possua? Será que não reparou que escureci o cabelo para constratar com seu travesseiro? Será que não sente que meu aperto de mão inseguro é um pedido de casamento? Será que não percebe que os finais dos nossos ancestrais dizem que somos nós? Será que não pensa sobre as possibilidades e em alguma realidade me imaginar na sua vida? Será que gosta de sorvete de creme? Será que deixaria eu ficar por um dia dentro do seu quarto? Será que começaria devagar, começando pelo cangote ou iria avançar? Será que trocaria um presente que alguém demorou meses escolhendo para lhe presentear? Será que aceitaria um vida sem muita calmaria e um filho que virá? Será que deixaria eu colocar na sua estante uma fotografia do que seria se eu e ele fomos nós? Será que atenderia o telefone de madrugada? Será que pensaria em amar alguém tão apaixonada? Será que se doaria para alguém que não tem quase nada? Será que apostaria um futuro por alguém que acabou de esbarrar? Será que o sorriso que tem já é de alguém ou de outro lugar?
Quando entenderá que quero estar dentro, difusa com sua vida e seu sonhar? Quando entenderá que agora ele não é só alguém que encontrei nestas idas e vindas e não é só uma história para um dia lembrar? Quando notará que meu desejo não é só para agora, que só quero ir lá fora se vier me acompanhar? Quando entenderá que não é um estranho, um conhecido, um amigo que só encontro se a coincidência deixar? Quando estará comigo além de um breve olhar? Quando seu corpo se perderá com o meu? Quando eu vou poder entrar na sua rotina? Quando vou deixar das indiretas para te acordar?
Quando vou poder mergulhar, ir no fundo, no teu mais que mais profundo e nunca mais voltar?
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(Cáh Morandi)