8 de ago. de 2010

"quando penso em você, é quando não me sinto só..."

(Pensando em você, Paulo Moska)
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Queria aprender mais da vida, que o amanhã estivesse certo, que a dor fosse passar, que o amor que me rodeia iria me levar a cura, Andrei também. Só o tempo nos ensina a imprevisão das coisas, a impossibilidade que não nos damos conta, os atalhos, as placas que entendemos errado pelo caminho.
Andrei, eu também tinha esperança. E ainda a tenho, lá no fundo, quase escondida, timída e triste, quase se foi quando me deparei com tua ausência. Minha esperança quase se anula, pois ela não te salvou e nem te trará de novo para que tua mãe te embale, para que te prepare para a escola de manhã, que te compre presentes, para que vele teu sono. A esperança que falhou contigo, também deixou uma falha no coração de teu pai, ele não pode ser teu herói, embora te contasse tantas histórias, embora quisesse te proteger de todo mal e ainda te carregar nos ombros para que não cansasse.
Mas sabemos, de alguma forma silenciosa e muito certa, que tu jamais desistiu. Fosses uma das pessoas mais corajosas que conheci. A leucemia não te assustou, e quem te levou de nós foi um propósito bem maior, que um dia quem sabe entenderemos, e o colocaremos no lugar da dor e da saudade. Nunca achei uma luta muito digna para um menino de 13 anos. Com 13 anos teu lugar era outro. Eu com minha idade ainda tenho receio com os hospitais, mas respeitei tua morada, respeitei tua força, respeitei teu olhar que sempre foi mais seguro que os nossos.
Sempre que penso em ti , corto quilos de cebolas e meu coração se aperta. Não acho justo, não acho que tivesse que ser você. Tento esquecer, tenho abrir a janela e esperar que passarás correndo de bicicleta, que nos toparemos na padaria, ainda trago lembranças para ti das minhas viagens e conto para todo mundo que tenho um amigo, um grande amigo, o mais fiel de todos os amigos e que ele tem 13 anos e se chama Andrei.
Tua rua sempre será a minha rua e o teu riso ficará sempre soando na minha memória. O câncer, a leucemia não poderão apagar quem és para nós, não poderão confundir a lembrança que temos do teu rosto, das tuas mãos. Tenho uma saudade tão grande e não sabemos aonde colocar todos os teus sonhos.Para aonde eles irão Andrei? Aonde colocaremos tanto que ficou da tua vida? Fazes uma falta. Principalmente nos domingos, principalmente quando me falta algo de doce e de alegre.
Guardo meu coração para depois, ainda não sei o que fazer com a parte que era tua.
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Cáh Morandi

4 de ago. de 2010

“... a gente faz o que o coração dita, mas esse mundo é feito de maldade e ilusão."

(Saudade da Bahia, Dorival Caymmi)
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Quando nos despedimos era a hora certa. Você esperou meu choro, meu desespero, minha súplica e minha ligação, esperou por coisas que não vieram. Você estava pronto para me consolar, para dizer que eu tinha que ir em frente e deixá-lo, mas não esperava que eu já conhecesse o caminho, que já tivesse partido bem antes do adeus.
Preciso te contar o quanto estou incrívelmente feliz, o quanto o meu amor próprio superou as madrugadas longas, o quanto que me descobrir fez te esconder na memória, o quanto me permitir me fez mais interessante, o quanto fantástica posso ser e as pessoas que posso ter ao redor, que posso escolher e não ser a escolha. Eu escolho você. Te escolho para ser quem irá ficar me esperando do outro lada da linha, da ponte, da avenida. Te escolho e te coloco do lado oposto da minha opção pela alegria.
Te escolho não por maldade, por vingança ou por caridade, mas porque você me ensinou muitas coisas, e coisas boas, coisas que nem um inimigo me ensinaria. Por causa de você conheci meus limites e os desaprendi, e hoje não me permito a nada que seja menos do que a felicidade ou mais do que a sensatez. Você me ajudou a me tornar uma mulher mais forte e menos tempestuosa. Me ensinou a não ser cruel, quando me magoou. Me ensinou a como não permitir o descaso, quando te contava um sonho. Me ensinou como não enganar, quando optou por outros planos. Me ensinou a descobrir o quanto posso ser amada, quando teu cuidado era de outra face.
Hoje meu corpo tem outras mãos espalhadas, hoje meu caminhar é um convite, hoje meu olhar é uma armadilha, hoje minha lembrança é uma tortura, hoje minha companhia é para poucos, hoje meu cheiro é um abismo, hoje meus dedos são violinos, hoje meu riso é a felicidade, hoje meu plano aceita ser surpreendido. Hoje apenas me permito a certeza do que a incerteza me impõe.
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Cáh Morandi