13 de jun. de 2009

"... o sol desperta a cidade, e eu planto mais perguntas que respostas."

(Mais perguntas que respostas, Leoni)
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É uma pena que muitas de nossas convicções só se tornem mais claras na medida que chegamos a maturidade. Cheguei até aqui e descobri que estou de mãos vazias. Que realmente as coisas são mais difíceis do que eu supunha, que realmente as responsabilidades chegam, que realmente o tempo passa mais rápido do que poderia notar. Envelhecer me tornou mais bossa nova, envelhecer me tornou mais próxima de um manual de instruções. Deixo de ser um monólogo, preciso de diálogos com extrema urgência, necessito de pessoas, de histórias, de experiências, desse contato mais pessoal que minha “auto-adolescência” não me permitiu.
Certas vezes, eu procurava coisas pequenas para me ocupar, coisas como conchinhas quebradas na beira do mar , como os finos raios de luz que atravessam as folhagens, coisas como decidir entre brincar na calçada ou na grama, como escolher a cor da roupa do personagem dos meus desenhos. Hoje tenho certeza absoluta de como aquilo era realmente importante, de como eu deveria me ocupar e preocupar com meus pequenos gestos. Voltar me faria criar lembranças mais bonitas, me faria mais preocupada e valorosa com o tempo.
Estranhamente, crescer é ter uma vontade enorme de encontrar as crianças que um dia fomos. Crescer tem mais a ver com se encontrar, do que se descobrir. Crescer é saber que a única magia que nos ajudará a alcançar os sonhos, é acordar às seis e dormir à uma. Crescer, no fundo, é diminuir nossa sensibilidade, nossa percepção.
Sinto até hoje a falta de alguma coisa. Qualquer coisa que não sei o que é. Já senti melhor o vento, já fui mais atenta com os livros, já tive uma letra mais bonita, já tive mais tempo para os amigos, já fui menos chata com a comida, já tomei refrigerante sem preocupação, já andei muito de pés descalços, já corri mais do que meu fôlego. E viver não me matou. Hoje me tornei tão cuidadosa a ponto de ser chata, a ponto de colocar cautela na frente da emoção. Hoje tudo tem que ser planejado. Hoje nem pensar em andar descalça ou tirar alguns minutos para me preocupar com raios de sol. Meu jardim é mais do jardineiro do que meu, meu jardim me vê por trás das vidraças todas as manhãs. A vidraça impede de nos tocarmos.A vidraça é a barreira intransponível entre meu relógio e o cheiro da grama amanhecida. Sinto falta do meu jardim. Sinto falta de quem eu era quando estava no meu jardim.
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Cáh Morandi

4 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Lindo demais* .. muito, tanto .. nossa!
me fez lembrar de tanta coisa
é, as vezes me assusto com o tempo.
fazia tempo que nao passava por aqui
que saudade de tuas palavras.
adorei, como sempre.
e este em particular, no momento em que estou, me fez pensar muito.
um beijo
fique bem ok
=)

Mateus Araujo disse...

Ah, Ando assim...
Parece que disse o que eu estava sentindo.
Quero minha criança de volta...
Enquanto isso, nessa busca, vamos escrevendo a vida.
Te sigo nos 2 blog moça...
Beijos!

Eze Viapiana disse...

que magnifico esse texto..sem entender eu me senti em casa no seu espaço. Gostei ;D
Parabéns.